Sublimação.
O corpo desajeitado, a cabeça apoiada na mão e os olhos entreabertos era seu sinal de desistência.
A mente estava cansada de trabalhar pra fazer tudo parecer menos ridículo e rude, já era claro demais pra fingir-se não ver, já era tarde demais pra fingir-se não crer no que era real e abraçar um sonho, um devaneio, uma linda mentira em veludo.
E nenhuma canção era forte o bastante pra quebrar o gosto do real-imutável e repugnante, nenhuma palavra, nenhuma lanterna na escuridão, nenhum silêncio.
E doía ter que aceitar que talvez a vida seria sempre aquilo, mais nada. Aquele barulho indesejado, aquelas palavras pesadas, aquela multidão indo pra lugar nenhum pensando estar indo para algum lugar.
***
— Dizem que eu deveria ter nascido em uma estrela.— E o que você faria morando em uma estrela? É um lugar pequeno, só caberia você.
— Eu dançaria ao som de um prelúdio, feito a bailarina da caixinha de música.
— Chopin?
— Debussy.
— E a vida seria apenas isso?
— Ahh... E só isso sendo seria tão mais do que o que tenho nas mãos.