27 de maio de 2014

82.

Enxerto de poema e flor

Não corte a rosa
que por tanto tempo escondeu um sol laranja e feio
que não querias ver

Não corte a rosa
que ainda tão linda
mas meio torta
- Não é vermelha (exceto de sangue)
e já não é mais tão branca -

Quero poder outras vezes beijar seu aroma
E tocar suas pétalas
quentes do sol que esconde

Mas se por acaso cortá-la,
Tem aqui um poema
Para ela morar

3 comentários:

  1. acho que a rosa hoje é um simbolo universal que funciona em dois vértices básicos: o de admiração pura e simples, parnasiana e beletrista - que aspire um bem estar, uma conformação estética... mas há a rosa do asfalto, que flore a morte, os homens que desistem, os desencontros, estações que quase acontecem, as coisas que emperram... mas há uma terceira interpretação do simbolo, mistico, que raramente falamos... e tem a ver com as coisas que disse

    "Não é vermelha (exceto de sangue)"
    [...]
    "Mas se por acaso cortá-la,
    Tem aqui um poema
    Para ela morar"

    Cortar o simbolo, cortar a carne do poema, cortar a carne do próprio corpo... os poetas como voce fundem essas coisas sem saber onde cada um começa e termina, se é que termina... Umberto Eco no O Nome da Rosa foi muito esperto em sacar o que a simbologia da Rosa tem de fato, provocador, apaixonado e totalmente imprevisível... No Pós-escrito de seu livro ele escreve: "stat rosa pristina nomine; nomina nuda tenemus." (A rosa antiga está no nome, e nada nos resta além dos nomes)... não nos resta apenas usar as rosas para lembrar os nomes que a ela coligamos nossa memória, este labirinto de coisas... curiosamente o labirinto do templo beneditino que se passa a história de Umberto Eco tem a forma da Rosa... esse fascínio e mistério que a rosa porta: algo de espiral na sua forma e abertura...

    um abraço

    Cecília Meireles - 4 Motivo da Rosa [excerto]

    Não te aflijas com a pétala que voa:
    também é ser, deixar de ser assim.
    [...]
    E por perder-me é que vão me lembrando,
    por desfolhar-me é que não tenho fim.

    William Butler Yeats - The Secret Rose [excerpt]

    Far-off, most secret, and inviolate rose,
    Enfold me in my hour of hours.

    Rainer Maria Rilke - Rose, Oh Pure Contradiction

    Rose, oh pure contradiction, joy
    of being No-one's sleep, under so
    many lids.

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