4 de dezembro de 2015

96.

Assombros


Te fiz em poema
Projetei em você as flores e passarinhos
O mistério e a morada
Tudo o que eu precisava para me sentir verso
E rima

Peguei fantasma alheio
E batizei como se fosse filho
De uma grande história
De um grande reino

Era mentira
Sempre foi
e eu sabia

Mas já se apagam da minha memória
Os rostos dos heróis covardes
que moravam em meus devaneios
Bem nítido, porém, permanecem
As imagens dos monstros
que enfrentei
Sem armadura
E sem fé divina

De todos os assombros
Talvez o maior
Seja essa sensação
de que nada disso importa
de que ainda sou a mesma
de que me toma o corpo, essa fraqueza 

De todos os monstros
Talvez o maior
Seja esse verme
Que me habita a alma
E come as paredes